A esperança morreu. A ansiedade acabou da forma mais abrupta possivel. O peito abre-se involuntariamente, dilacerando e esmagando o coração. Sente-se a garganta a fechar, tal é o tamanho do nó que nela se formou e que nos impede de falar, de respirar, de gritar, de maldizer o mundo. Todo ele.
Estamos anestesiados. Ainda não queremos acreditar que aconteceu. Que aquele foi o desfecho. Tantos dias a imaginar os piores cenários... mas tendo sempre a ténue esperança de que o mal-entendido fosse desfeito, sempre desejando que a dolorosa ausência culminasse no libertador reencontro, sempre esperando que os dias que num ápice se tornaram os piores e mais dificeis da nossa vida perante a incerteza do que estaria a acontecer, de repente passassem a ser apenas uma lembrança longinqua, assim que aqueles braços de mãe voltassem a abraçar aquele corpo que o seu corpo gerou.
Ainda não queremos acreditar que aconteceu. As pernas mal aguentam o corpo destruído pela dor da perda. A cabeça anda à roda tentando racionalizar o que não encontra a razão. Nesse vil exercicio, questionamo-nos se a culpa é nossa, se podiamos ter evitado, o que podiamos ter feito de diferente... tentamos racionalizar o que não encontra a razão.
Sentimos que descemos ao Inferno...
Estamos sem forças. Ainda assim temos de olhar. As lágrimas escorrem face abaixo e parece que vamos ficar sem uma pinga de água no corpo, de tanto chorar. Ainda assim temos de reconfortar outros. Não sabemos como vamos suportar o amanhã. Ainda assim temos de acordar e viver. Sem.
Sentimos o Inferno ao nosso lado...
Tudo isto que aqui descrevo é o que o meu coração imagina que uma mãe esteja a sentir pela perda de um filho.
Apenas posso imaginar. Não me atrevo a dizer que compreendo ou que sei o que está a passar. Isso seria um insulto.
Mas porque conheço esta mãe já lá vão 11 anos, porque esta mãe pegou no colo os meus três filhos muitas vezes, porque esta mãe lhes deu muito mimo e carinho só porque sim, porque esta mãe, mesmo depois de os meus filhos deixarem de frequentar o infantário onde trabalha, sempre os acolheu com grande alegria em cada visita... de alguma forma sinto a sua dor. Tal como outras mães cujos filhos foram acarinhados por ela.
A única certeza que tenho é que, de facto, o Inferno acompanha-a agora. O coração dilacerado alberga-o. Não será só o tempo que ajudará a reconstruir e a demonstrar como viver, depois de tudo o que aconteceu. O Inferno tem de arranjar forma de sair. Como? Não sei...
O meu abraço forte e as minhas preces de força e amparo foram já enviadas. Espero que as sinta. Nada mais resta, por agora, a fazer...