17 de março de 2016

AINDA AS AUSÊNCIAS...

Sabes, vou ter mais uma sobrinha na família, desta vez do lado do meu irmão. Estou super contente por eles porque vão ter uma linda bebé, pelos meus filhos porque vão ter outra prima e por mim porque vou ser novamente tia. 

Mas ao mesmo tempo sinto uma certa tristeza porque... não estou a ver a barriga da minha cunhada a crescer, não posso falar para a bebé para ela ir conhecendo a minha voz, não posso dar o abraço que queria ao meu irmão para o felicitar pela magnifica fase da sua vida em que está prestes a entrar.

Isto das ausências é tramado. Perdem-se muitas coisas. Outras tantas passam-nos ao lado.

Sei que a ligação com a minha sobrinha vai ser imediata assim que a tiver nos meus braços pela primeira vez. Mas nos "entretantos" estou aqui, a 8.690,2kms de distância dela. 

E cada vez vai doendo menos. Mas ainda dói...

15 de março de 2016

Da ausência...

... sim, é verdade!
Não ando distante de ti, mas ando ausente.
Do que realmente gosto de fazer.
Do ter tempo para o fazer.
De mim!

A verdade é que os últimos tempos têm sido de aprendizagem.
De constatação de que realmente, não sendo ninguém, vou sendo alguém.
De que eu também conto.

A imagem que escolheria hoje para esses tempos seria a de uma bulldozer a tentar levar tudo à frente - mas comigo, de pé, sem vergar.

Sim, é verdade, estou ausente. Mas só aparentemente.
Num lugar mágico onde apenas entra quem importa, no meu coração, estou presente e bastante ativa.
Apenas ainda não é tempo de o exteriorizar.

(fica a satisfação para quem nos lê; porque tu sabes... certo?)

SINTO A TUA AUSÊNCIA...

... porque sei o quanto gostas de escrever. E se não o fazes, parece que rebentas. Como eu.

Ausência de tempo, ausência de lugar, ausência de espaço... sinto a tua ausência...

... porque sei o quanto precisas de estar, de sentir, de apreciar. Como eu.

Mas estás ausente... Não é de mim. Sei-o bem.

Eu sei...

Volta. Volta! Volta...

10 de março de 2016

ERA NUM INSTANTINHO...

Caneco!, na casa ao lado estão dois jardineiros, a cortar os ramos que teimam em fugir da linha direita das sebes que servem de muro separador entre a minha casa e a casa do vizinho, com uma catana!

Para cortar um pescoço de forma rápida e limpa eram dois segundos...

4 de março de 2016

DE REPENTE...

... aterro em Angola e "ganho" sobrinhos e afilhados quase instantaneamente! 

Tu ias adorar passar algum tempo por estes lados só por um aspecto curioso: é que por cá as crianças chamam aos adultos - que não são da família e que acabam de conhecer - de "tio" ou "tia". Estamos no parque com os miúdos e a menina que quer brincar com a M. vem ter comigo e pergunta: "Tia, posso brincar com a tua filha?". Estamos na piscina e o menino que observa o P. pergunta-me: "Tia, é o teu bebé?"

Portanto, para qualquer criança que queira meter conversa comigo ou simplesmente dizer-me alguma coisa, sou a "Tia". Bem melhor e certamente mais simpático do que "Dona", "Senhora", ou "Olha aí!"

"Madrinha" já é dito pelos adolescentes. A primeira vez que me chamaram "Madrinha" foi na rua, por um rapaz que devia rondar os 15 anos. Para pedir dinheiro: "Madrinha, tem dinheiro? É para comer."

E há quem chame "Mãe" ou "Mãezinha" às senhoras mais velhas, por respeito, embora nenhuma relação de parentesco haja.

No inicio estranhei estes "tratos", mas agora acho normalíssimo. Habituei-me, pois praticamente todos os fins de semana irrompem pela minha casa dentro pelo menos duas crianças nossas vizinhas do condomínio onde moramos (e já tive cerca de 7 crianças em casa, não contando com os meus filhos!). E é "Tia, posso ir brincar com a R. e o P.?" para aqui ou "Tia, a M. pode ir a minha casa lanchar?" para acolá... 

"Madrinha" ouço menos vezes porque os adolescentes são mais reservados no que ao dirigir a palavra a desconhecidos diz respeito. Mas as crianças são uma verdadeira doçura no trato e de imediato parece que nos conhecemos desde sempre. Mas sempre num contexto controlado (pais presentes, escola ou vizinhos do mesmo prédio ou condomínio) e mostrando sempre respeito pelo facto de sermos os mais velhos. 

Aliás, por estes lados os mais velhos são altamente respeitados: quem chega a uma idade avançada é tida como uma pessoa com grande sabedoria com quem aprender e a quem admirar. Os conselhos sobre o mais importante da vida são solicitados a eles; maus tratos são severamente condenados socialmente; os mais novos cuidam financeiramente dos mais velhos caso estes não possuam os meios para o fazer; e mesmo que possuam os meios, está socialmente instituído que os mais novos devem cuidar dos mais velhos - porque a idade é um posto e porque se considera que se deve preservar a sua experiência de vida e os conhecimentos que podem passar aos mais novos. E não é isto maravilhoso? E não deveria ser assim em todo o mundo?

2 de março de 2016

HÁ COISAS QUE AS CRIANÇAS FAZEM EM QUALQUER PARTE DO MUNDO...

... como por exemplo salientar a diferença do outro de forma menos positiva.

E as razões para o fazerem são múltiplas, mais complexas do que se pode pensar mas - disso tenho a certeza - bem diferentes e menos profundas do que as que levam os adultos a fazer exactamente a mesma coisa.

Porque te falo disto? Por causa uma situação ocorrida na passada segunda feira com a M. e um colega de turma, no recreio da escola:

A M. foi chamada à atenção pela professora na aula. No recreio, um colega resolve gozar com ela a propósito desse episódio na aula, ao ponto de ela começar a chorar. A M. diz-lhe para ele parar de fazer aquilo caso contrário faz queixa a um vigilante do recreio, ao que o colega lhe responde: "Cala-te! mas é, que tu vens de Portugal!" 

Bem, se fosse um episódio entre adultos com certeza a frase teria sido outra. O facto de esta criança ter dito aquela frase e não outra "mais pesada" revela, para mim, que há já um trabalho em termos de transmissão de valores e princípios feito em casa. Pelo menos quero acreditar que sim...

A escola onde a M. estuda neste momento em Angola é um colégio internacional, onde há alunos angolanos, portugueses, russos, chineses, sul-.africanos, sérvios, brasileiros, moçambicanos... e cujo projecto estrutural da escola inclui a integração dos conhecimentos das diferentes culturas e costumes, numa lógica de enriquecimento social, mental, emocional e académico de todos os alunos.

Voltando a este episódio com a M.: ela ficou calada depois de ter ouvido aquela frase. Disse-me que não percebeu exactamente o que é que o colega quis dizer com aquilo, mas que se sentiu triste depois de o ter ouvido. Respiro fundo. E digo-lhe apenas o seguinte "Olha M., esse menino apenas quis implicar contigo porque sabe que não nasceste em Angola. Mas onde nasceste não interessa nada, porque neste momento, tu és de Angola porque onde moras, onde tens a tua casa, é em Angola. Neste momento pertences aqui e este é o teu país tanto como é o país desse menino. Da próxima vez que ele te voltar a dizer essa frase podes responder-lhe exactamente isso: que és de Angola, porque moras cá tal como ele."

Tenho a certeza de que a M. não entendeu a amplitude da frase "Cala-te! mas é, que tu vens de Portugal!". Sei que por minutos ela se sentiu deslocada, sem sentimento de pertença. Daí a tristeza. 

Tenho igualmente a certeza de que aquele menino não entendeu o total significado do que disse. Sei que ele quis implicar com uma colega e como aparentemente ela não estava a demonstrar a reacção que ele pretendia, recorreu a uma diferença entre ele e ela (neste caso a nacionalidade e cor da pele, mas podia ser a religião, etnia, não ter uma perna, ser gago, etc....), transformou-a em algo menos positivo e arremessou-a, como se de uma pedra se tratasse. 

Porque é ainda uma criança, não tem para já a capacidade de ser empático com os outros devidamente desenvolvida, caso contrário, no segundo seguinte a ter proferido aquela frase, sentiria o coração apertado e uma pequena nuvem negra a pairar sobre o mesmo, como aconteceu com o coração da M.. E de certeza não o voltaria a repetir. 

Cabe a nós adultos desenvolver nas crianças essa empatia, essa capacidade de se colocarem no lugar do outro, para que melhor entendam as consequências das suas acções. Acredito que essa é uma de algumas das ferramentas fundamentais para educar adultos conscientes do seu papel num mundo que se quer de paz, de integração e de saudável convivência em comunidade e em sociedade. Cá por casa, vamos fazendo a nossa parte.

(a meio do relato da M. sobre este episódio da escola, a irmã começa a chorar. Pergunto-lhe o que se passa, responde-me que se lembrou da avó materna, a minha mãe. Porque a avó - branquinha de pele e de olhos verde-amendoados, tinha dupla nacionalidade portuguesa-angolana, uma vez que era filha de pais portugueses mas nasceu em 1953 em Luanda - Angola e aqui viveu até aos seus 8 anos, num local não muito longe de onde moramos actualmente. E a R. chorava porque sentiu que para além da sua irmã, também a sua avó tinha sido magoada. A R. percebeu bem melhor o significado daquela frase proferida pelo menino. Daí a nuvem negra no seu coração ser bem maior...)