11 de fevereiro de 2016

ANDAR DESCALÇO E CONTACTOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU

Quando era pequena adorava andar descalça no pátio da casa dos meus pais. E no verão a casa aquecia tanto que ter a palma do pé em contacto com a tijoleira fria da cozinha era uma das minhas formas preferidas para aguentar o calor.

Em Luanda está sempre muito calor. Mesmo quando chove (as famosas chuvas tropicais em que de repente cai uma tromba de água durante 10 minutos que tudo inunda!) o ar está sempre muito quente. As casas levam com o sol escaldante o dia inteiro e portanto são uma sauna. O ar condicionado nas divisões principais de uma casa é uma necessidade básica, não um luxo. E perante tanto calor, só apetece andar descalço, dentro de casa e fora.

Só que há uma pequenininha, tinyzinha, pituchizinha diferença entre andar descalço dentro de casa ou no pátio, em Portugal e em Angola: bichos rastejantes!

Por estes lados, andar descalço incorre no perigo de calcar gafanhotos, centopeias de 6 centímetros, baratas castanhas e pretas, lagartas nojentamente peludas, lagartixas pequeninas de 6 centímetros ou grandes de 10 centímetros (sim, a partir de 9,5 cm já são por mim consideradas grandes!), formigas de 9 milímetros (que parece que se morderem, nos arrancam um dedo do pé...) ... enfim, uma miríade de fauna maravilhosa para se ter um contacto próximo e quem sabe até combinar um café num final de tarde, se eu fosse o Charles Darwin nas Galápagos.

Mas não sou. Sou apenas a Sónia que tem horror a estes bicharocos. Nada contra estas espécimes, acredito que devem ser seres simpáticos e até bastantes conversadores, mas daí a ir tomar um café com eles... 

E só de imaginar o meu pé a tocar, mesmo ao de leve, em algo potencialmente peludo ou crocante e que me pode morder e/ou transmitir alguma doença que só existe por estes lados e para a qual não há vacinas e mesmo que houvesse só há num hospital qualquer o tratamento necessário mas que é longe daqui e cujas estradas para lá chegar são quase intransitáveis e quase que nem vale a pena tentar o tratamento lá e portanto resta-nos rezar para que todas as vacinas que tomamos ao longo da vida mais as obrigatórias que nos injectaram antes de viajarmos para o continente africano tenham servido para alguma coisa e quem sabe - quem sabe! - o nosso corpo até tenha a capacidade e resistência para lidar com estes novos desafios! (ufa... deixa-me respirar...)

Em resumo: podemos andar descalços por estes lados. Mas pelo sim pelo não... é melhor ter a chinela entre o pé e o chão!


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