11 de dezembro de 2016

MÃE AFRICANA VS MÃE EUROPEIA E DIVAGAÇÕES

Sabes, quando aterrei em Angola em Setembro de 2015 tinha na minha cabeça uma data de ideias pré-concebidas sobre africanos, africanas, sobre o seu modo de vida, a sua cultura, as suas crenças, sobre o que priorizam e o que consideram supérfulo, sobre como vivem a familia, o casamento, os filhos, os pais, a sua ideia de comunidade, as suas ambições profissionais e pessoais.

Ao fim de um ano e 3 meses a viver em Luanda e a conviver diariamente com angolanos - adultos e crianças - concluo que muitas das minhas ideias pré-feitas não tinham qualquer fundamento lógico. Outras tinham fundamento mas pelas razões erradas. Outras ainda, continuo a tentar perceber onde raio é que fui buscar lógica para justificar essa bagagem moral que tinha na minha cabeça, porque não se enquadra minimamente na realidade, na realidade que observo, in loco, todos os dias.

Sei que há angolanos, de gerações antigas e mais jovens, que não gostam da presença do português em Angola. E compreende-se perfeitamente: apesar de eu já ter ouvido da boca de algumas pessoas - portuguesas pois claro - que no tempo anterior a 1975 é que os nativos tinham uma vida melhor, a realidade é que isso era válido apenas para uma percentagem muito infima da população angolana. A restante população não tinha essa oportunidade.

Sei também que há angolanos para quem a presença do português é bem-vinda, pois traz saber-saber e saber-fazer. E isso vale muito para ajudar o País a crescer.

E depois há os angolanos que superficialmente não ligam nada se eu sou branca, amarela ou rosa às pintinhas. Saliento: superficialmente. Pois eu, copo de leite , nunca passo despercebida. O que já não me deixa muito desconfortável. 
(não muito, só um pouquinho...)

Desde que aterrei em Angola também assumi logo no inicio que eu tinha uma responsabilidade: demonstrar, através dos meus actos, da minha postura, dos meus principios e da minha educação, que não represento o que de mau se fez no passado pelos nossos antepassados portugueses.

E podes perguntar-me se isso será justo para comigo ou se cabe a mim fazê-lo. Eu respondo-te que sim. 
É justo porque eu tenho essa herança assumida na minha pele e na minha nacionalidade de nascimento. E cabe-me fazê-lo, assim como acho que cabe a todos os outros como eu que estão nesta linda terra, nesta maravilhosa e fervilhante terra que os acolheu - que apesar de tudo os acolhe sempre! - para mudarmos ideias pré-concebidas: as minhas, as dos meus filhos, as do angolano que comigo se cruza no supermercado, do filho dele, da mamã(*) que me vende a fruta na rua, do companheiro de carteira da minha filha do meio, dos portugueses mais novos do que eu que aqui estão a trabalhar mas que vivem numa redoma, fechados nos condominios onde vivem e a frequentar socialmente sitios onde apenas vão maioritariamente outros portugueses... enfim, mudar a partir da base algo que é estruturante e corrosivo em toda a sociedade.

E não preciso de fazer nada de especial para algo tão profundo. Apenas tenho de ser eu. Apenas tenho de agir normalmente no meu dia-a-dia com a educação, gentileza e valores morais que possuo. Ver a pessoa e não a raça. Ver o coração e não a cor da pele. Só isso. Fácil, não?

Dou-me conta que ainda não te falei sobre o que me trouxe aqui, o titulo deste post. 

Ou se calhar tenho falado nele desde o principio: é que desde que aterrei em Angola, uma das ideias pré-concebidas que tinha na minha cabeça é que a forma de amar de uma mãe africana continha diferenças substanciais em relação à forma de amar da mãe europeia. Errado, totalmente errado. 

Os cuidados de saúde tal como os conhecemos na Europa são infelizmente uma miragem para muitas mães angolanas. Desde que conheço essa realidade de perto, nunca mais me queixei do tempo de espera num centro de saúde ou num hospital em Portugal. Porque apesar da espera, eu tenho acesso a profissionais de saude, a medicamentos - alguns deles a preços baixos - e a condições sanitárias boas. Em Angola isso ainda está a ser construido para todos usufruirem.

Mas estas diferenças fundamentais não afectam em nada a forma como uma mãe angolana ama os seus filhos. Porque ela ama-os incondicionalmente como eu amo os meus filhos, ela mima-os tal e qual como eu mimo os meus, ela preocupa-se com o seu futuro tal e qual como eu me preocupo com o futuro dos meus.

Angola tem-me ensinado muito, não me canso de o dizer. Sei que tudo o que eu possa deixar como contributo nesta terra, vou receber dela o triplo, no minimo: crescimento emocional, maturidade, conhecimento, enriquecimento cultural... e mais pedacinhos do meu coração oferecidos.

Acho que já te disse isto e de mãe para mãe: irias gostar tanto de visitar esta terra...

(*) mamã: mulher já na casa dos 50 anos, normalmente já com filhos e netos. Respeitada pela sua idade e posição na familia. Chama-se "Mamã" por ser a cuidadora da familia.

25 de agosto de 2016

CLICHÉ AMBULANTE

É oficial: sou um cliché! Sou a emigrante de volta à terra no querido mês de Agosto, a correr de um lado para o outro para poder visitar a familia e amigos e assim apaziguar as saudades sentidas durante um ano inteiro, a dizer (e sentir) que é em Portugal que o nosso coração está e a gabar-me de tudo o que há de diferente no outro país.

E agora que falta pouco mais de uma semana para deixar Portugal e voltar ao país que por agora alberga a minha casa, começo a sentir a angustia da saudade que vai bater e a antecipar as lágrimas que vão rolar no aeroporto 5 minutos antes de passar para a zona de embarque.

Rai's parta o cliché!

23 de julho de 2016

MINHA QUERIDA, QUERIDA AMIGA, HOJE É ASSIM...

Créditos: https://br.pinterest.com/pin/557672366341286953/

8 de junho de 2016

O QUE MAIS ME CUSTA ASSISTIR NO SER HUMANO...

... é a facilidade com que magoa emocionalmente outro. Como as feridas infligidas não são visíveis a olho nu, "espeta-se" inesperadamente a faca, muitas vezes até se faz a roda com ela, e vira-se levianamente costas, sem olhar para trás e muitas vezes sem remorsos de qualquer tipo.

Dizia eu, como as feridas infligidas não são visíveis a olho nu, o ferido questiona-se sobre se vale a pena dizer que está dorido. Na alma e no coração. Provavelmente não lhe será prestada atenção. Porque nada se vê a olho nu. Para muitos.

Mas outros olhares vêem. Outros olhares pressentem a dor, acorrem ao ferido para o confortar e ajudam a limpar as feridas. Mesmo sem que o ferido tenha mencionado onde essas feridas latejam.

Certos olhos conseguem ver a alma e o coração de outros. Porque estão ligados a eles, por milhares de milhões de pequenos fiozinhos. E por isso, se algum pedacinho do coração de um doí, o outro sente a picada e acorre de imediato. 

Para amenizar a dor, basta muitas vezes só um abraço. Ou algumas palavras doces. Não é preciso muito quando se tem a certeza de que estamos em porto seguro, em segurança, rodeados de compreensão e empatia.

E não é preciso estar geograficamente próximo para confortar e apoiar. Basta ter o coração no local certo e a alma equilibrada. Os fiozinhos fazem o resto. Mesmo que estejamos a 8.690,2kms de distância. Ou sentadas lado a lado a tomar café.

27 de abril de 2016

PARA OS EUROPEUS ISTO SERIA CONSIDERADO FALTA DE CHÁ...

... mas em Angola, aparecer em casa de alguém sem ter sido convidado é perfeitamente usual e a reacção de quem recebe as visitas inesperadas é sempre de alegria, abrindo os braços para oferecer um forte abraço e felicitando sempre quem chega com um "Bem vindo! Entra, a minha casa é a tua casa!" 

Ora eu, europeiazinha de gema e com a regra de boa etiqueta gravada na cabeça de que não se deve ir a casa de alguém sem ser convidado, senti-me muito desconfortável quando em Dezembro do ano passado, cerca de 3 meses após a minha chegada a Angola e de vivência num condomínio privado, me aparecem à porta 3 meninas, que eu não conhecia de lado algum, para brincar com as minhas filhas. Eram nossas vizinhas no condomínio, tinham já visto as minhas filhas a passear no condomínio e portanto decidiram vir a nossa casa apresentar-se e brincar. Assim, sem complicações, sem problemas, sem maldades.

E quando entraram pela primeira vez em nossa casa, trataram-me logo por "tia" (já te falei disso aqui), e falaram comigo como se já nos conhecêssemos à muito tempo, e foram brincar com os meus filhos, e sentiram-se perfeitamente à vontade em nossa casa, e pediram para lanchar, e fizeram perguntas, e agradeceram as termos recebido tão bem, e foram-se embora com a promessa dada de voltarem no dia seguinte.

Tudo isto foi vivido por mim na primeira vez com grande stress - por não saber o que fazer, o que dizer, como me comportar.

Mas depois, esta forma de ser entranha-se lentamente. E hoje em dia, embora ainda não consiga aparecer sem avisar em casa de alguém - o meu lado europeu ainda não me permite essa descontração - já abro os braços para oferecer um forte abraço a quem vem a minha casa sem avisar. Porque por estes lados, todos os momentos são perfeitos para celebrar o convívio, a amizade e, acima de tudo, a vida! 

Faz sentido, não achas?

26 de abril de 2016

OS FIOZINHOS QUE NOS UNEM

Pode ter sido dois pirralhos de 2 anos que agora estão uns pré-adolescentes assustadoramente crescidos a razão de nos conhecermos, mas foi a tua forma de ser e estar no mundo que me fez gostar de ti e querer te manter na minha vida, fará neste setembro 10 anos.

Conheci pessoas antes de ti que julgava poderem pertencer para sempre ao meu núcleo, mas afinal estava enganada - não por responsabilidade delas mas antes inteiramente minha - porque as minhas expectativas em relação a elas estava errada.

Conheci pessoas depois de ti que depressa se instalaram também no meu coração e julgo que também andarão por cá algum, arrisco muito, tempo, porque já sei o que quero e quem quero ao meu lado na minha vida.

Esta distância que nos separa só tem servido para cimentar o bom que nos une. Esta distância que nos aproxima tem-me ensinado que o que é real não desaparece só porque não estamos no mesmo local. Esta distância que agora faz parte da minha vida tem sido uma aliada para mim - agora vejo-o - porque só com o confronto da distância me dei conta que continuo presente em todo o local, pois vivo no coração das pessoas que gostam de mim, assim como elas vivem no meu. 

Embora sinta que neste momento o meu lugar é a 8690,2kms de distância de ti, os fiozinhos que nos ligam estão bem apertados e vibram muito, sempre, todos os dias! Porque todos os dias estás comigo, no meu coração!

Gosto muito de ti.

18 de abril de 2016

Dos abraços...

Li uma frase deliciosa que dizia que um abraço é um aperto que alivia.
Sem dúvida: um abraço bem dado deita por terra as saudades e reduz a distância e o tempo.

Gosto muito de escrever algo que só TU entendes!

:)

17 de março de 2016

AINDA AS AUSÊNCIAS...

Sabes, vou ter mais uma sobrinha na família, desta vez do lado do meu irmão. Estou super contente por eles porque vão ter uma linda bebé, pelos meus filhos porque vão ter outra prima e por mim porque vou ser novamente tia. 

Mas ao mesmo tempo sinto uma certa tristeza porque... não estou a ver a barriga da minha cunhada a crescer, não posso falar para a bebé para ela ir conhecendo a minha voz, não posso dar o abraço que queria ao meu irmão para o felicitar pela magnifica fase da sua vida em que está prestes a entrar.

Isto das ausências é tramado. Perdem-se muitas coisas. Outras tantas passam-nos ao lado.

Sei que a ligação com a minha sobrinha vai ser imediata assim que a tiver nos meus braços pela primeira vez. Mas nos "entretantos" estou aqui, a 8.690,2kms de distância dela. 

E cada vez vai doendo menos. Mas ainda dói...

15 de março de 2016

Da ausência...

... sim, é verdade!
Não ando distante de ti, mas ando ausente.
Do que realmente gosto de fazer.
Do ter tempo para o fazer.
De mim!

A verdade é que os últimos tempos têm sido de aprendizagem.
De constatação de que realmente, não sendo ninguém, vou sendo alguém.
De que eu também conto.

A imagem que escolheria hoje para esses tempos seria a de uma bulldozer a tentar levar tudo à frente - mas comigo, de pé, sem vergar.

Sim, é verdade, estou ausente. Mas só aparentemente.
Num lugar mágico onde apenas entra quem importa, no meu coração, estou presente e bastante ativa.
Apenas ainda não é tempo de o exteriorizar.

(fica a satisfação para quem nos lê; porque tu sabes... certo?)

SINTO A TUA AUSÊNCIA...

... porque sei o quanto gostas de escrever. E se não o fazes, parece que rebentas. Como eu.

Ausência de tempo, ausência de lugar, ausência de espaço... sinto a tua ausência...

... porque sei o quanto precisas de estar, de sentir, de apreciar. Como eu.

Mas estás ausente... Não é de mim. Sei-o bem.

Eu sei...

Volta. Volta! Volta...

10 de março de 2016

ERA NUM INSTANTINHO...

Caneco!, na casa ao lado estão dois jardineiros, a cortar os ramos que teimam em fugir da linha direita das sebes que servem de muro separador entre a minha casa e a casa do vizinho, com uma catana!

Para cortar um pescoço de forma rápida e limpa eram dois segundos...

4 de março de 2016

DE REPENTE...

... aterro em Angola e "ganho" sobrinhos e afilhados quase instantaneamente! 

Tu ias adorar passar algum tempo por estes lados só por um aspecto curioso: é que por cá as crianças chamam aos adultos - que não são da família e que acabam de conhecer - de "tio" ou "tia". Estamos no parque com os miúdos e a menina que quer brincar com a M. vem ter comigo e pergunta: "Tia, posso brincar com a tua filha?". Estamos na piscina e o menino que observa o P. pergunta-me: "Tia, é o teu bebé?"

Portanto, para qualquer criança que queira meter conversa comigo ou simplesmente dizer-me alguma coisa, sou a "Tia". Bem melhor e certamente mais simpático do que "Dona", "Senhora", ou "Olha aí!"

"Madrinha" já é dito pelos adolescentes. A primeira vez que me chamaram "Madrinha" foi na rua, por um rapaz que devia rondar os 15 anos. Para pedir dinheiro: "Madrinha, tem dinheiro? É para comer."

E há quem chame "Mãe" ou "Mãezinha" às senhoras mais velhas, por respeito, embora nenhuma relação de parentesco haja.

No inicio estranhei estes "tratos", mas agora acho normalíssimo. Habituei-me, pois praticamente todos os fins de semana irrompem pela minha casa dentro pelo menos duas crianças nossas vizinhas do condomínio onde moramos (e já tive cerca de 7 crianças em casa, não contando com os meus filhos!). E é "Tia, posso ir brincar com a R. e o P.?" para aqui ou "Tia, a M. pode ir a minha casa lanchar?" para acolá... 

"Madrinha" ouço menos vezes porque os adolescentes são mais reservados no que ao dirigir a palavra a desconhecidos diz respeito. Mas as crianças são uma verdadeira doçura no trato e de imediato parece que nos conhecemos desde sempre. Mas sempre num contexto controlado (pais presentes, escola ou vizinhos do mesmo prédio ou condomínio) e mostrando sempre respeito pelo facto de sermos os mais velhos. 

Aliás, por estes lados os mais velhos são altamente respeitados: quem chega a uma idade avançada é tida como uma pessoa com grande sabedoria com quem aprender e a quem admirar. Os conselhos sobre o mais importante da vida são solicitados a eles; maus tratos são severamente condenados socialmente; os mais novos cuidam financeiramente dos mais velhos caso estes não possuam os meios para o fazer; e mesmo que possuam os meios, está socialmente instituído que os mais novos devem cuidar dos mais velhos - porque a idade é um posto e porque se considera que se deve preservar a sua experiência de vida e os conhecimentos que podem passar aos mais novos. E não é isto maravilhoso? E não deveria ser assim em todo o mundo?

2 de março de 2016

HÁ COISAS QUE AS CRIANÇAS FAZEM EM QUALQUER PARTE DO MUNDO...

... como por exemplo salientar a diferença do outro de forma menos positiva.

E as razões para o fazerem são múltiplas, mais complexas do que se pode pensar mas - disso tenho a certeza - bem diferentes e menos profundas do que as que levam os adultos a fazer exactamente a mesma coisa.

Porque te falo disto? Por causa uma situação ocorrida na passada segunda feira com a M. e um colega de turma, no recreio da escola:

A M. foi chamada à atenção pela professora na aula. No recreio, um colega resolve gozar com ela a propósito desse episódio na aula, ao ponto de ela começar a chorar. A M. diz-lhe para ele parar de fazer aquilo caso contrário faz queixa a um vigilante do recreio, ao que o colega lhe responde: "Cala-te! mas é, que tu vens de Portugal!" 

Bem, se fosse um episódio entre adultos com certeza a frase teria sido outra. O facto de esta criança ter dito aquela frase e não outra "mais pesada" revela, para mim, que há já um trabalho em termos de transmissão de valores e princípios feito em casa. Pelo menos quero acreditar que sim...

A escola onde a M. estuda neste momento em Angola é um colégio internacional, onde há alunos angolanos, portugueses, russos, chineses, sul-.africanos, sérvios, brasileiros, moçambicanos... e cujo projecto estrutural da escola inclui a integração dos conhecimentos das diferentes culturas e costumes, numa lógica de enriquecimento social, mental, emocional e académico de todos os alunos.

Voltando a este episódio com a M.: ela ficou calada depois de ter ouvido aquela frase. Disse-me que não percebeu exactamente o que é que o colega quis dizer com aquilo, mas que se sentiu triste depois de o ter ouvido. Respiro fundo. E digo-lhe apenas o seguinte "Olha M., esse menino apenas quis implicar contigo porque sabe que não nasceste em Angola. Mas onde nasceste não interessa nada, porque neste momento, tu és de Angola porque onde moras, onde tens a tua casa, é em Angola. Neste momento pertences aqui e este é o teu país tanto como é o país desse menino. Da próxima vez que ele te voltar a dizer essa frase podes responder-lhe exactamente isso: que és de Angola, porque moras cá tal como ele."

Tenho a certeza de que a M. não entendeu a amplitude da frase "Cala-te! mas é, que tu vens de Portugal!". Sei que por minutos ela se sentiu deslocada, sem sentimento de pertença. Daí a tristeza. 

Tenho igualmente a certeza de que aquele menino não entendeu o total significado do que disse. Sei que ele quis implicar com uma colega e como aparentemente ela não estava a demonstrar a reacção que ele pretendia, recorreu a uma diferença entre ele e ela (neste caso a nacionalidade e cor da pele, mas podia ser a religião, etnia, não ter uma perna, ser gago, etc....), transformou-a em algo menos positivo e arremessou-a, como se de uma pedra se tratasse. 

Porque é ainda uma criança, não tem para já a capacidade de ser empático com os outros devidamente desenvolvida, caso contrário, no segundo seguinte a ter proferido aquela frase, sentiria o coração apertado e uma pequena nuvem negra a pairar sobre o mesmo, como aconteceu com o coração da M.. E de certeza não o voltaria a repetir. 

Cabe a nós adultos desenvolver nas crianças essa empatia, essa capacidade de se colocarem no lugar do outro, para que melhor entendam as consequências das suas acções. Acredito que essa é uma de algumas das ferramentas fundamentais para educar adultos conscientes do seu papel num mundo que se quer de paz, de integração e de saudável convivência em comunidade e em sociedade. Cá por casa, vamos fazendo a nossa parte.

(a meio do relato da M. sobre este episódio da escola, a irmã começa a chorar. Pergunto-lhe o que se passa, responde-me que se lembrou da avó materna, a minha mãe. Porque a avó - branquinha de pele e de olhos verde-amendoados, tinha dupla nacionalidade portuguesa-angolana, uma vez que era filha de pais portugueses mas nasceu em 1953 em Luanda - Angola e aqui viveu até aos seus 8 anos, num local não muito longe de onde moramos actualmente. E a R. chorava porque sentiu que para além da sua irmã, também a sua avó tinha sido magoada. A R. percebeu bem melhor o significado daquela frase proferida pelo menino. Daí a nuvem negra no seu coração ser bem maior...)

24 de fevereiro de 2016

Se o Feiticeiro de Oz pudesse tele-transportar-nos...

Sabes, no outro dia partiu-se-me o coração...

Perante uma saída de casa para umas meras compras e o meu aviso a toda a criançada para se prepararem para sair, o P. atira-me com esta: "Mamã, vamos a casa dos avós, vamos, vamos,vamos?!?!", diz ele todo contente perante a perspectiva de os rever.

Ele não sabe. Ainda não sabe. Ainda não tem a noção de que estamos a 8.690,2 kms de distância da casa dos avós. Não tem a noção de que, mesmo que saíssemos naquele instante em direcção a casa dos avós, demoraria pelo menos 10 horas a lá chegar. Não tem a noção de que estamos longe, muito, muito longe da casa dos avós.

"Toto, I've a feeling we're not in Kansas anymore.", disse a Dorothy.

Meu doce P., tenho a impressão de que já não estamos em Portugal ...

23 de fevereiro de 2016

DICIONÁRIO PORTUGUÊS-ANGOLANO

Créditos: www.angolamonitor.co.ao

Lembro-me sempre de ti quando me deparo com palavras angolanas novas! Aprender novas palavras e integrar novas linguagens no teu cérebro é de certeza como brincadeira de crianças, mas para mim é um exercício de tentativa-erro lento...

Mas com o tempo passado por estes lados vamos aprendendo cada vez mais palavras novas e, na minha opinião, super engraçadas. É claro que no primeiro contacto não entendíamos patavina sobre o que queriam dizer. O significado de algumas palavras o marido já sabia, o de outras chegamos lá pelo contexto e outras ainda só com pesquisa em casa ficamos a perceber o que queriam dizer. A cara de parva que já fiz por não "apanhar uma" do que me estava a ser dito tem os seus dias contados. 

Pode ser que um dia se consiga ter por casa um diálogo parecido com este:
- Meninos, desliguem a tape e venham matabichar! Já olharam para o ulá? Vão chegar atrasados e olhem que o ruca não tem asas...
- Vai malembe, estamos indo, ya? Mamã, sabes o que eu queria ter no meu aniversário? Uma grande boda e uma jinga!
- Xii, anduta pedir! Sabes que para isso que pedes é preciso gastar cumbú! Presta atenção a esta ocipama: és apenas uma candengue, mas para evitares makas na tua vida tens de aprender que o cumbú é difícil de ganhar e só bumbando se consegue. Quem for imbumbável terá fobado e mesmo que tenha muito cambas para o ajudar, terá sempre de se esforçar para ter as coisas que quer na vida.
- Então e não basta ir ao multicaixa?
- É preciso que tenhas cumbú na conta bancária.
- Pois... então e se eu for à loja e pedir uma jinga emprestada?
- Não funciona assim. Se quiseres levar uma coisa sem pagar ficas com uma kilapi e se não pagares essa kilapi a magala aparece e podes ir para a quionga!
- Isso é que era quitute! Nem pensar, não vou fazer isso. Não vou jajar, fiquei panco por aquela jinga que vi na loja! Mas há coisas mais importantes, como ter pitéu na mesa para todos.
- Ya! Assim é que se fala!
- Hum... e se me desses uma gasosa por eu pôr o lixo lá fora? Assim juntava dinheiro mais rapidamente para comprar o que quero...
- E se levasses uma mbenda no mataco pelo atrevimento? Fazes o que a mãe te pede e mais nada! Ya?!
- Ya...

(Tradução:
- Meninos, desliguem a televisão e venham tomar o pequeno-almoço! Já olharam para o relógio? Vão chegar atrasados e olhem que o carro não tem asas...
- Vai com calma, estamos a ir, está bem? Mamã, sabes o que eu queria ter no meu aniversário? Uma grande festa e uma bicicleta!
- Epá, pedir é fácil! Sabes que para isso que pedes é preciso gastar dinheiro! Presta atenção a esta lição: és apenas uma criança, mas para evitares problemas e confusões na tua vida tens de aprender que o dinheiro é difícil de ganhar e só trabalhando se consegue ter. Quem não quiser trabalhar terá fome e mesmo que tenha muito amigos para o ajudar, terá sempre de se esforçar para ter as coisas que quer na vida.
- Então e não basta ir ao multibanco?
- É preciso que tenhas dinheiro na conta bancária.
- Pois... então e se eu for à loja e pedir uma bicicleta emprestada?
- Não funciona assim. Se quiseres levar uma coisa sem pagar ficas com uma dívida monetária e se não pagares essa dívida a policia aparece e podes ir para a cadeia!
- Isso é que era doce! Nem pensar, não vou fazer isso. Não vou mentir, fiquei apaixonada por aquela bicicleta que vi na loja! Mas há coisas mais importantes, como ter comida na mesa para todos.
- Sim senhora, assim é que se fala!
- Hum... e se me desses uma gorjeta por eu pôr o lixo lá fora? Assim juntava dinheiro mais rapidamente para comprar o que quero...
- E se levasses uma chapada no rabo pelo atrevimento? Fazes o que a mãe te pede e mais nada! Sim?
- Sim...

E para saber mais sobre o dicionário angolano, deita uma espreitadela aqui. Vale a pena :)

19 de fevereiro de 2016

SOMOS UMAS BATATAS!

Desenho feito pelo P. retratando a sua família

Admirem este primeiro desenho que o meu filho fez representando-se a si, às irmãs e os seus pais.

Estão a ver-nos? Somos aqueles desenhos roxos.

Todo orgulhoso, o P. explicou quem é quem: ele é o desenho roxo mais pequeno, as irmã mais nova é o desenho maior logo a seguir e assim por diante, até chegar ao desenho da mãe, o maior. "Então o pai é mais pequeno que a mãe?!" exclama o papá. A irmã mais velha de imediato explica: "a mamã é mais alta que tu por isso o P. desenhou bem, está certo!"

E pronto, é isto. Aqui estamos nós. Somos umas batatas...
(e a mamã é mais alta que o papá...)

17 de fevereiro de 2016

DOCE INCONSCIÊNCIA DO PERIGO

Créditos: www.ulengocenter.co.ao

Lembras-te das “Cadeirinhas”, uma atracção nas Feiras Populares de Lisboa e Porto, proibidas devido a um grave acidente durante um S. João no Porto que causou vítimas mortais? No Ulengo Center, um parque de diversões situado no município de Belas em Luanda, podemos encontrar esta famosa atracção, que até é permitida a crianças com menos de 10 anos. Um must!

Neste parque de diversões podemos também temer pela vida dos nossos petizes na roda gigante comprada em segunda mão e que manifesta claramente falta de manutenção, na montanha-russa cujo barulho que as ferragens fazem lembra um edifício prestes a ruir e ainda no mini comboio da mini montanha russa que embora tenha cintos de segurança para evitar que a criançada que se lembre de se levantar a meio da viagem não consiga saltar do comboio em andamento, não tem qualquer procedimento de segurança para evitar que a criançada saia do mini comboio quando esta pensa que a viagem terminou e se prepara para sair do comboio e de repente... o comboio arranca novamente! 

Qual foi o procedimento de segurança a que eu assisti nesta atracção? O meu grito de pânico quando num segundo vi uma criança a sair do comboio e no segundo seguinte o comboio arranca! O motorista do comboio pára e a criança volta a sentar-se. Porque eu gritei com a criança prestes a cair no fosso entre o passeio e o comboio para ela se sentar novamente, queda esta capaz de raspar joelhos e braços, de causar contusões na cabeça e sabe-se lá mais o quê.

No meio do espanto por parte destes adultos relativo às parcas condições de segurança de alguns equipamentos, a nossa criançada estava alegre e ingenuamente alheia ao facto de se poderem magoar à séria com certas atracções disponíveis neste parque de diversões.

Valha-nos a sua ignorância pois ela traz felicidade. Valha-nos a nossa atenção redobrada pois ela traz... idas ao hospital desnecessárias.

12 de fevereiro de 2016

Pela primeira vez: estou como a chuva!

Apesar de ser um bebé de junho, a verdade é que gosto mais do inverno.
Do frio!
Do aconchego do casaco quente!
Da mantinha no colinho!
Mas... ultimamente... não sei... a minha cabeça tende a divagar e dou por mim a pensar na injustiça que é a chuva.
Vamos lá a ver: eu gosto dela e reconheço a sua importância. Mas não consigo deixar de pensar que há quem não tenha um teto, um abrigo e esteja à mercê deste clima que tanto leva de nós.
Sempre tive consciência da nossa sorte e dou inúmeras vezes graças por ela - mas ultimamente não me sai da cabeça quem a não tem. Ao ponto de não conseguir aquecer.
Será a idade que me amolece... será a minha cabeça a chamar-me a atenção para aquela que é parte da minha essência e que tenho descurado.
Não sei!
Só sei que me sinto como o tempo de chuva: frio e cinzento!
 
(desculpa, Amiga minha: mas nem sempre as nossas publicações terão de fazer sentido, pois não?)

11 de fevereiro de 2016

ANDAR DESCALÇO E CONTACTOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU

Quando era pequena adorava andar descalça no pátio da casa dos meus pais. E no verão a casa aquecia tanto que ter a palma do pé em contacto com a tijoleira fria da cozinha era uma das minhas formas preferidas para aguentar o calor.

Em Luanda está sempre muito calor. Mesmo quando chove (as famosas chuvas tropicais em que de repente cai uma tromba de água durante 10 minutos que tudo inunda!) o ar está sempre muito quente. As casas levam com o sol escaldante o dia inteiro e portanto são uma sauna. O ar condicionado nas divisões principais de uma casa é uma necessidade básica, não um luxo. E perante tanto calor, só apetece andar descalço, dentro de casa e fora.

Só que há uma pequenininha, tinyzinha, pituchizinha diferença entre andar descalço dentro de casa ou no pátio, em Portugal e em Angola: bichos rastejantes!

Por estes lados, andar descalço incorre no perigo de calcar gafanhotos, centopeias de 6 centímetros, baratas castanhas e pretas, lagartas nojentamente peludas, lagartixas pequeninas de 6 centímetros ou grandes de 10 centímetros (sim, a partir de 9,5 cm já são por mim consideradas grandes!), formigas de 9 milímetros (que parece que se morderem, nos arrancam um dedo do pé...) ... enfim, uma miríade de fauna maravilhosa para se ter um contacto próximo e quem sabe até combinar um café num final de tarde, se eu fosse o Charles Darwin nas Galápagos.

Mas não sou. Sou apenas a Sónia que tem horror a estes bicharocos. Nada contra estas espécimes, acredito que devem ser seres simpáticos e até bastantes conversadores, mas daí a ir tomar um café com eles... 

E só de imaginar o meu pé a tocar, mesmo ao de leve, em algo potencialmente peludo ou crocante e que me pode morder e/ou transmitir alguma doença que só existe por estes lados e para a qual não há vacinas e mesmo que houvesse só há num hospital qualquer o tratamento necessário mas que é longe daqui e cujas estradas para lá chegar são quase intransitáveis e quase que nem vale a pena tentar o tratamento lá e portanto resta-nos rezar para que todas as vacinas que tomamos ao longo da vida mais as obrigatórias que nos injectaram antes de viajarmos para o continente africano tenham servido para alguma coisa e quem sabe - quem sabe! - o nosso corpo até tenha a capacidade e resistência para lidar com estes novos desafios! (ufa... deixa-me respirar...)

Em resumo: podemos andar descalços por estes lados. Mas pelo sim pelo não... é melhor ter a chinela entre o pé e o chão!


ÀS VEZES NÃO É PRECISO DIZER MAIS NADA...

"Esbarrei" neste site, o Eu, mãe para ler um determinado artigo e entretanto "dou de caras" com outro artigo que é tão contundente de tão certeiro que é. E a mensagem é válida para mães, pais, mulheres, homens, crianças... Não se explica, apenas se lê. E se estivermos preparados para aceitar essa verdade, se interioriza:

"ESPAÇO DA MÃE | TU ÉS SUFICIENTE!
Por Tatiana Homem

Não sei onde estás enquanto lês este texto. Podes estar a navegar na net, aproveitando os poucos minutos que tens disponíveis para ti. Ou, se calhar alguém te fez forward deste texto para o trabalho. Ou estás na casa de banho, com o telefone nas mãos e a porta trancada, a tentar controlar as lágrimas porque este foi mais um daqueles dias que só te apetece esquecer.

Onde quer que estejas, seja o que for que estás a fazer, esta mensagem é para ti e começa assim… Tu és suficiente.

Pensa nestas palavras por um minuto.
Tu és suficiente.

Tal como quando estás a provar um vinho especial, saboreia estas três palavras e guarda-as na tua cabeça.

Tu és suficiente.

Lembro-me da primeira vez que descobri que estava grávida. Olhei com descrença para o resultado do teste. A alegria que senti foi imediatamente ultrapassada pela preocupação.
Bebi alguns copos de vinho este mês; comi sushi; tomei medicação… Já sou uma má mãe. Não sou suficiente.

Durante o trabalho de parto, lembro-me de pensar como será possível conseguir tomar conta de outro ser humano, se mal estou a conseguir dar conta desta tarefa? Em que me fui meter? Eu não sou suficiente.

Noite após noite, a cada três horas, amamentei. Enquanto segurava o meu bebé nos braços, preocupava-me.
Estou cansada; só quero dormir; sou egoísta por estar a pensar em mim e no sono que estou a perder. Sou uma má mãe. Eu não sou suficiente.

Uma queda das escadas ou no pátio, o bater com a cabeça e a viagem até às urgências pediátricas…. Momentos assustadores na vida de uma criança pequena. Enquanto limpava as lágrimas do meu filho, preocupei-me.
Não consigo acompanhar. Não sou suficientemente rápida; não sou suficientemente competente. Não sou suficiente.

Trabalhos de casa, testes, fazer e perder amigos… todos os stresses de educar uma criança em idade escolar. Quando penso nesta fase da vida, fico ansiosa.

Não sei o que estou a fazer. Não compreendo estes trabalhos de casa. Não posso protegê-lo dos amigos que o querem magoar. Serão as notas dele suficientes? Não sou suficiente.

Ir trabalhar, ficar em casa… estas decisões sobrecarregam-me.
E se estou a tomar a decisão errada? E se o meu trabalho afeta a relação com os meus filhos? E se, mesmo ficando em casa, não for uma boa mãe? Não sou suficiente.

Não sou suficiente. Estas palavras roubam-nos a alegria e destroem-nos a confiança na nossa capacidade de sermos mães.

Tens de fazer alguma coisa… tu és suficiente!

Quer tenhas adotado, feito uma cesariana, levado ou não epidural, feito o parto em casa ou no hospital.. .tu és suficiente.

Quer tenhas amamentado ou dado biberão, quer o teu filho tenha dormido no berço ou na tua cama… tu és suficiente.

Quer o teu filho tenha notas médias ou espectaculares, um amigo ou muitos amigos… tu és suficiente.

Quer trabalhes fora de casa ou estejas em casa… tu és suficiente.

E eu sei isto porque há uma criatura pequena que te ama e olha para ti com adoração. Sei que és suficiente porque há alguém que rejubila em ser amado por ti.

És mãe. O facto de pensares que não és suficiente mostra o quão extraordinária tu és. Independentemente da idade dos teus filhos, eles precisam que tu gostes de ti própria tanto quanto gostas deles. Eles precisam que tu percebas que és suficiente.

Onde quer que estejas, seja o que for que estás a fazer… esta mensagem é para ti.

Sim, tu és suficiente.

Tatiana

Texto adaptado de The Deliberate Mom"

Créditos: http://www.eumae.pt/pt/post/mae/015309.espaco.da.mae...tu.es.suficiente

3 de fevereiro de 2016

ANDA UMA MÃE A CRIAR UM FILHO...

...para ouvir uma destas:

"Mãe! O que é que vai ser o jantar hoje? É que cheira mesmo mal!"

(o que é que apetecia fazer de imediato à criança depois de ouvir uma destas?!? Exacto! Não sei como me contive...)

2 de fevereiro de 2016

BABAS E BEIJOQUICES

Créditos: www.lovethesepics.com

O meu mais novo ultimamente anda um beijoqueiro! Será por ter 3 anos e ser rapaz?! Os teus rapazes passaram por esta fase? Agora, a toda a hora, o P. corre para mim e quer dar-me um beijinho na face. Outras vezes é um beijinho na face, outro no nariz, outro no queixo e por ultimo outro na testa. Exactamente por esta ordem.

Quando lhe ralho porque desobedeceu a uma ordem ou fez uma asneira propositadamente, põe o olhar "Gato das Botas do Shrek" e dá-me um beijinho. Para me engraxar e amolecer.
(e consegue o seu intento...)

Outras vezes teima que seja eu a vesti-lo e não o pai, mas como os adultos insistem na distribuição de tarefas, tem de me dar um beijinho antes de o pai o vestir.

Mas ontem foi "O" dia da beijoquice! Depois de um primeiro dia de infantário com choro matinal, o final da tarde foi radicalmente diferente: assim que pôs os olhos em mim e no pai, correu na nossa direcção, subiu para o meu colo e deu-me beijos na face até mais não, com uma alegria tal que parecia que tinha estado longe de nós durante um mês! Foram tantos os beijos que a dada altura as minhas bochechas ostentavam baba! Mas não me importei nada com isso. 

Nunca me soube tão bem ter o meu filho beijoqueiro nos braços como ontem...

1 de fevereiro de 2016

AGONIAS E APERTOS...

Como sabes, iniciou hoje a escola para os meus filhos.

Nestes últimos dias, antecipei deliciar-me com o sabor do silêncio em casa. Imaginei a imagem dos meus pulmões a encherem-se de ar por eu finalmente respirar fundo. Visualizei-me a sorrir perante a casa vazia de crianças, sem brinquedos e migalhas de pão espalhados por todo o lado. Projectei alegria no meu coração por este dia finalmente ter chegado.

Mas amiga, eis a realidade:
Sinto-me agoniada e com o coração apertado. Entrei em casa depois de entregar os meus filhos e estranhei, de uma forma esquisitamente má, o silêncio reinante. Os meus pulmões não conseguem encher-se de ar porque o meu peito está apertado de preocupação. Arrumei os brinquedos esquecidos ontem na sala de estar e suspirei de melancolia. O meu coração sente-se um pouco triste...

Foram muitos meses a ser mãe a tempo inteiro, 24 horas por dia, 7 dias por semana. E agora que finalmente estou sem eles durante o dia, agora que finalmente tenho tempo para mim, sinto um vazio. O que vou fazer agora sem eles? O que vou ser eu agora sem eles? Como vou ser eu agora sem eles?

Se calhar... agora é o tempo de cuidar de mim. De me colocar em primeiro lugar. De me sentir eu novamente. De me recuperar novamente...

... pelo menos até à hora de ir buscar os miúdos à escola, depois vou ser toda mãe novamente! E ansiosa por saber como lhes correu o dia!
(com a certeza de que não vão querer saber como correu o meu...)

29 de janeiro de 2016

A PROPÓSITO DAS COSTAS DOS MEUS FILHOS...

.. só faltam 3 dias. 3 dias...

27 de janeiro de 2016

AS COSTAS DOS MEUS FILHOS SÃO TÃO BONITAS...

Tu sabes que eu adoro os meus filhos! Eu faria qualquer coisa por eles, daria a minha vida por eles. Tu sabes.

Mas depois de 4 meses, mais precisamente 126 dias!, em casa com eles, 24 horas por dia... estou ansiosa por os ver pelas costas!!!!

Estou em contagem decrescente para o inicio do ano lectivo em Angola. É já na próxima segunda-feira! Daqui a 5 dias!!! Ai ai... suspiro pela próxima segunda-feira. A partir desse dia, já não vou ter 3 crianças a pedir-me coisas de 5 em 5 minutos, a berrarem uns com os outros por causa da escolha do canal de desenhos animados, a chatearem-se porque um não emprestou X e outro estragou Y que era de H...

Na próxima segunda-feira, quando chegar a casa depois de deixar os miúdos na escola vou ouvir... nada. Nada! Vou entrar em casa e tudo vai estar silencioso. Deliciosamente silencioso. 

É claro que vou estar de coração apertado porque vai ser o primeiro dia de escola para os 3, com todas as ansiedades e preocupações normais dos mais pequenos, que nós também iremos absorver. Mas isso passa-me! Foram 4 meses, 24 horas por dia, 7 dias por semana, com 3 crianças vivaças e exigentes a reclamar a minha atenção total ininterruptamente! Vai-me passar rápido! 

Pronto... na terça-feira já sei que vou estar menos eufórica por não ter os miúdos em casa... 

Mas na próxima segunda-feira, gozar o silêncio de uma casa sem crianças vai ser o maior dos privilégios!

(Puxa, estou mesmo cansada...)

20 de janeiro de 2016

A melhor Mãe do Mundo!

Estou em crer que, seja em que continente for, o estado natural de uma Mãe é preocupada.
Se não for com a logística inerente a cada filho e as suas rotinas, há de ser com o seu desenvolvimento.
Se não for com a alimentação e a saúde física, há de ser com a saúde psicológica.
E se não for com nada disso, uma Mãe vai preocupar-se com o facto de poder não estar a ser a melhor Mãe que ela consegue ser.
Mas afinal o que é isso de ser a melhor Mãe?
No momento em que nasce um bebé, nasce uma Mãe.
Sem manuais.
Sem notas de rodapé explicativas.
Sem qualquer pista.
Nasce o bebé, nasce a Mãe e agora: entendam-se.
E tudo se repete a cada filho. Sim, que do segundo e do terceiro e dos seguintes a Mãe já tem umas noções, mas volta tudo a um estado de ... não zero... mas zero vírgula cinco, porque cada filho tem o seu feitio, a sua personalidade.
Portanto, isto de dar o melhor... será que é mesmo andar a correr, sempre em stress, sempre atrasada, sempre a verificar se nenhum detalhe falha, sob pena de, caso falhe, sermos uma má Mãe?
Será que é por a vida quase em banho-maria porque os filhos precisam de nós?
Será que é deixarmo-nos de lado para darmos sempre e só prioridade aos pequenos?
Tenho ouvido muitas Mães falarem e tenho-me apercebido que há muita preocupação com o que fica bem uma Mãe dizer ou fazer. Ao ponto de haver quem apregoe morais que não pratica. Isso incomoda-me; não porque eu não o consigo fazer, mas antes porque não compreendo que haja quem pense que tem de o fazer.
Assim, creio que a cada Mãe apenas é pedido que ame os seus filhos e muito; que o demonstre com muito carinho e mimo e colo e todas aquelas manifestações que nos sabem tão bem; e que sinta que está a dar o seu melhor - porque, na prática, não podemos fazer muito mais que isso.

Minha amiga: aqui me confesso, Mãe em aprendizagem, com orgulhosas falhas e muitas atitudes que não ficaria bem contar - sim, que Mãe baixa as calças do filho em público porque ele não quis dançar com ela, ou anda na estrada com o carro cheio de crianças, janelas abertas, rádio no máximo enquanto canta uma certa melodia do Pharrell? ;)- mas com filhos que volta e meia olham para mim, sorriem e dizem "É, a minha Mãe é assim!", com um misto de "Oh, Mãe!"-não-faças-isso-olha-as-pessoas com esta-é-a-minha-Mãe-ah-pois-é!

13 de janeiro de 2016

ENXOVAIS E PREOCUPAÇÕES...

Quando cheguei a Luanda, uma das primeiras imagens que vi e que me marcou o coração foi o das mães angolanas a "zungar", ou seja, a vender na rua todo o tipo de mercadorias, que carregam na cabeça, com um filho às costas, atado por um pano que amarram na frente à altura do peito, debaixo de um sol escaldante. Ainda mais marcante é a imagem de uma destas mães, carregando o produto a vender na cabeça, com o filho às costas e grávidas. Como é possível eu queixar-me da dor no braço pela meia-hora de colo que dei ao mais pequeno? Não, não me atrevo!

Em determinadas formas de pensar a maternidade e preparar o nascimento do bebé, há diferenças abismais entre a mãe portuguesa (realidade que conheço, ou seja... eu!) e a mãe angolana:

A mãe portuguesa:
. antes do bebé nascer, compra as roupas fofas para levar para a maternidade e para os seis meses seguintes, pelo menos. Conta com o facto de vir a ter mais roupa quando o bebé nascer, advinda dos presentes oferecidos por quem a irá visitar para conhecer o petiz;
. pesquisa afincadamente na internet sobre qual o melhor carrinho de mão para levar o bebé a passear, qual a cadeira-auto para recém-nascido mais segura, qual a marca de detergente para a roupa mais hipoalergénica do mercado, qual a marca de carrinho de mão mais trendy e qual a melhor forma de ter o carrinho, a alcofa e a cadeira de carro dessa marca ao menor preço possível. Ou oferecido...;
. perscruta no espelho qual o melhor ângulo para não parecer um bisonte (sem ofensa para os bisontes...) mas sim uma grávida fofa e que "nem engordou nadinha, só tem barriga";
. lê todos os artigos que oferecem dicas sobre como ser uma boa mãe, tem pelo menos um livro sobre como cuidar de bebés e absorve dogmaticamente os conselhos dados pela enfermeira do centro de saúde no curso de maternidade e pela enfermeira/técnica de saúde do curso de maternidade oferecido pela loja de roupa e acessórios para bebé - mesmo que entre ambos alguns sejam contraditórios...;
. se mãe de primeira viagem, deposita todos os seus sonhos neste bebé; todas as ansiedades e preocupações sobre se será capaz de ser uma boa mãe, também;
. descobre sistemas de segurança para fixar cadeiras-auto agregados aos cintos de segurança do carro que desconhecia!
. constata que mais brinquedos não significam mais felicidade para os seus filhos.

A mãe angolana:
. antes do bebé nascer, confia que os familiares e vizinhos irão oferecer um enxoval de roupa para o recém-nascido. E oferecem...;
. tem os seus filhos no hospital mais próximo ou na própria casa (grande parte das vezes é em casa);
. ainda grávida, já possui muita informação sobre os cuidados básicos a dar a um bebé, pois muito provavelmente ajudou a sua mãe a criar os seus irmãos mais novos; muitas vezes foi ela a "mãe" quando era ainda criança;
. não tem carrinhos de mão para passear o bebé, isso são "mariquices"; o meio de transporte usual do bebé ou criança de colo é mesmo nas suas costas, seguros por um pedaço de tecido que aperta com um nó à frente, achatando completamente as suas glândulas mamárias;
. se mãe de primeira viagem, sabe que dificilmente conseguirá cuidar e fazer tudo bem sozinha; a ajuda - e por vezes irritantes opinanços sobre a forma mais correcta de fazer as coisas - dos seus ascendentes, sogra incluída, é algo adquirido;
. descobre que é uma verdadeira guerreira cheia de força e coragem, pois num país onde ainda é difícil ter, para grande parte da população, a satisfação das necessidades básicas que conferem o estatuto de uma vida digna, ela não desiste; e dia após dia vai à luta para que no final da tarde haja comida na mesa para a sua prole;
. constata que mais brinquedos não significam mais felicidade para os seus filhos, pois a felicidade por este lados encontra-se noutras coisas, como ser saudável, ter uma boa alimentação, poder andar descalço na terra seca, comer frutos tropicais maravilhosamente maduros e doces à tarde que foram colhidos de manhã ou ir à escola para saber ler, escrever e quem sabe no futuro ter uma profissão digna.

Dou por mim a relativizar certas preocupações minhas, quando olho para estas mães que trabalham mais de 12 horas por dia, sob o sol escaldante e com o filho às costas.

Dou por mim a relativizar certas exigências dos meus filhos quando olho para estes filhos a quem o facto de pouco terem não lhes tirar o sorriso aberto e sincero.

Dou por mim a pensar em como sou uma privilegiada, por tudo. E em como estas mães são para mim uma inspiração...

7 de janeiro de 2016

FOI PRECISO VIR PARA ANGOLA PARA...

... iniciar uma tradição: cozinhar bolos e bolachas com os miúdos, para o fim de semana começar mais docinho!

Lembro-me perfeitamente de ajudar a minha mãe a bater as claras para o seu maravilhoso bolo de chocolate, que eu, o meu irmão e o meu pai devorávamos num instante! E quando a massa era vertida para a forma de bolo, a taça onde tinha sido feita era meticulosamente "limpa" com a ajuda do famoso utensílio denominado "salazar" e à falta deste, com os dedos. Os "bigodes" de chocolate com que eu e o meu irmão ficávamos após a limpeza da taça eram de chorar a rir. E as mãos pareciam terem andado na lama, de tão sujas de massa de chocolate ficavam.

Pois bem, agora passou a ser a minha vez de confeccionar bolos com a ajuda da criançada e de me rir com os "bigodes" de chocolate" e as mãos assustadoramente sujas que ficam após a "limpeza" da taça.

(a dieta é que não gosta nada desta nova tradição...)

Pasteleiras afincadamente a trabalhar

A melhor parte de se fazer bolos? "Limpar" a taça onde se fez a massa, pois claro!

Queques de baunilha com cobertura de chocolate

6 de janeiro de 2016

NOVO ANO...

... novo calendário, novos cortes de cabelo, nova escola, novas rotinas escolares, novos desafios para conhecer novas amizades, novas fardas escolares, novas ansiedades maternais (ou se calhar as mesmas de sempre...), novos trabalhos de casa, novas horas de ir para a cama, novas horas para acordar.

Muita coisa nova a acontecer por estes lados.

Mas algo vai-se manter igual: a saudade de quem comigo partilhou sempre os novos anos lectivos, as novas aprendizagens, as novas ansiedades maternais (ou se calhar as mesmas de sempre...), os novos desafios vividos e apresentados pelos petizes...

Um beijinho grande para ti Amiga, também estás sempre comigo! 

5 de janeiro de 2016

Olá!

Minha querida Amiga que estás a tantos quilómetros de mim:
estive ausente.
Mas sempre contigo em pensamento!
Fui realizar um sonho e deixei-me levar pelas mãos que seguram o meu coração (mas, shiu! não lho digas!) à minha querida capital londrina, que apresentei aos meus queridos filhos.

O meu coração começou a bater tão forte quando dei de caras com um marco, tendo um filho em cada mão.
As lágrimas começaram a formar-se.
A voz começou a fraquejar.
A respiração a ficar ofegante.
Tudo indicava uma explosão emotiva que só mesmo eu seria capaz de entender.
E foi então que... os F e E repararam nos carros e começaram a desfiar o rosário das marcas.

Achei que fora a forma de eles processaram a emoção que também estariam a sentir e não pensei muito nisso!

Outro dia.
Outro monumento - daqueles que todos reconhecem de tanto que se vê em livros, revistas, televisão e afins.
Volta tudo ao início: o meu coração voltou a bater muito forte; as lágrimas começaram a formar-se; a voz começou a fraquejar; a respiração a ficar ofegante. Tudo preparado para nova explosão emotiva ...
E foi então que ... os F e E repararam nos patos, nos cisnes, nos esquilos e nos pelicanos.

Pensei que estava a lidar com casos perdidos!
Pensei que tinha falhado!
Mas não: uma visita a um museu e um desabafo no avião fizeram-me compreender que não só dão valor a estes momentos, como os guardam como tesouros preciosos.

Afinal, não ando a falhar!
;)

4 de janeiro de 2016

SEM COMENTÁRIOS...

"ESTÁS A TAPAR-ME OS OLHOS E A VISTA!!!!!"
Pérola dita por M.

Possíveis variantes:
. "Pára de puxar o meu cabelo e o couro cabeludo!!!!!"
. "Não quero mais que me molhes com água, é molhada!!!!!"
. "Porque é que temos ouvidos nas orelhas?!?!?!"
. "Gosto de ter um irmão e uma irmã. Mas se tivesse uma irmã e um irmão também era bom!"

... and so on...

1 de janeiro de 2016

ELES ANDAM AÍ...

Gafanhoto angolano dizendo com o olhar: "só estou à espera que abras uma janela para entrar dentro da tua casa"

Para além da nova tarefa matinal, obrigatória por estes lados, de besuntar a pele com repelente para insectos, constatámos recentemente a necessidade de implementar uma outra: na hora de sair da cama, inspeccionar se há seres vivos rastejantes debaixo da cama ou no metro quadrado circundante da cama. Antes de tirar os pés da cama e os pousarmos no chão. 

Chegámos a esta conclusão após alguns sustos e gritos desesperantes da parte da R. e da M.: "MÃE!!!! MÃÃÃAÃÃEEEEEEEE!!!! SOCOOOOOORROOOOO!!!!! ANDA CÁ DEPRESSAAAAAAA!!!"

"Minha nossa, magoaram-se valentemente ou caiu um pedaço de tecto, ou está uma serpente de 3 metros de comprimento e 20 cm de diâmetro no quarto delas!!!!" - pensei eu enquanto corria em direcção ao quarto delas.

Não. Nada disso. Apenas uma barata - com uns respeitáveis 6 cm de comprimento, é certo... - ou uma aranha ou um gafanhoto pequeno mas enervantemente saltitão estavam a causar o pânico!

Apesar de vivermos numa casa de betão e cimento construída num terreno desbravado e circundado por outras construções habitacionais e de comércio e estradas, a natureza no seu estado mais puro mostra-nos constantemente que o Homem nunca a vencerá e tomará o seu lugar. 

Estes seres pequeninos ensinam-nos, todos os dias, que nós, humanos, podemos cá estar muito tempo, mas quem manda neste lugar... são eles!